“Nós temos sutiãs com até 37 componentes que demandam uma certa construção delicada da alça, o encaixe específico do regulador, o acertamento da cor e etc. Parece um processo simples, mas não é”, comenta Sandra Chayo, sócia e diretora do Grupo HOPE, empresa que atua com moda íntima no Brasil há mais de 50 anos. Assim como a confecção do produto em si pode ser complexa, os processos que envolvem pessoas em uma organização também podem, ainda mais quando envolvem constantes inovações.
Em seus 25 anos de experiência, Sandra teve de inovar diversas vezes, fazendo rebranding quando nem sabia o que de fato era o termo. Nesta edição do EdTerça (Inovação e Liderança), a profissional trouxe à discussão algumas de suas experiências com relação a treinamento e desenvolvimento e como as lideranças podem acostumar os colaboradores a se manterem sempre atualizados e constantemente engajados neste contexto. Confira!
Embora a empresa tenha sido criada pelo pai de Sandra, o Grupo HOPE, até os dias de hoje, segue tendo a esperança e a prosperidade como motes, de acordo com as próprias palavras da diretora. E isso é considerado um ponto fundamental para a empresa poder se desenvolver tanto em questão de inovação.
Apesar disso, existem diversos desafios. “Para uma empresa se sustentar por 50 anos, precisamos saber lidar com todas as eras que passamos. Como indústria, fomos pioneiros tanto no varejo quanto no digital, sempre nos reinventando a cada nova modalidade que surgia”, acrescenta Sandra.
Ela ainda menciona que a história da empresa se fez dessa forma por estar constantemente saindo da zona de conforto e pensando fora da caixa. Quando a empresa foi criada, roupa íntima ainda era considerada apenas um artigo de necessidade básica, o que acabou sendo considerado inovação para o setor foi muito analisado dos setores ao redor. “Estudei arquitetura, queria trabalhar com design e moda. A roupa íntima, no geral, era uma marca popular, que só deveria ser funcional. Na época, nem chamávamos de moda íntima ainda”.
Sandra observou uma certa conectividade com a indústria do esmalte e acabou se tornando um referencial para ela, já que todas as pessoas queriam personalização com a aquisição desses determinados produtos. “Nessa análise percebi que, se o esmalte poderia mudar de cor, por que a roupa íntima deveria continuar sendo bege? Enquanto já tínhamos bem definido o trabalho básico bem feito, decidi trazer uma pitada de moda para inovação”, relata.
Essa transformação, em uma marca que se passou a se tornar fashion e desejável, se iniciou de forma intuitiva e ela gosta de destacar que o avanço não foi exclusivamente tecnológico. “É comum associar inovação com tecnologia e não é só isso. As inovações diversas devem estar no produto, nos processos, nos canais de distribuição e etc. É um jeito diferente de fazer a mesma coisa enquanto se corre riscos”, relata.
De acordo com a edição mais recente do Future of Jobs, relatório do World Economic Forum, existem top 10 skills mais importantes de 2023. Três delas foram fortemente destacadas por Sandra: o pensamento criativo, a curiosidade e o lifelong learning, a motivação e o self-awareness. Dentro de todos esses aspectos, ela defende a importância de se ter um mindset empreendedor.
Como adepta da educação continuada, Sandra reconhece que estar em constante aprendizado é de extrema importância para a sua carreira. “Enquanto antigamente nós tínhamos períodos específicos como escola, faculdade e mercado de trabalho sem estudos extras, hoje temos eventos e podcasts que nos desenvolvem nos mais variados assuntos. Hoje é tudo muito acessível.
Embora o empreendedorismo geralmente seja associado à ambição de um negócio próprio, a profissional ressalta que é importante lembrarmos que somos também gerenciadores das nossas vidas. “Mesmo que você não tenha CNPJ, às vezes a sua própria organização pode te permitir desenvolver o intraempreendedorismo”, acrescenta.
Quando tomou iniciativas de rebranding, Sandra pensava que era necessário educar o mercado e mostrar às clientes aquilo que elas precisavam, ao invés das mudanças que elas realmente precisam. Além disso, é importante estar alinhado às boas práticas de mercado, o que é muito importante estar relacionado com o ESG.
“Quanto à questão social, empregamos muita gente e sempre tivemos valores de diversidade muito impactantes. Isso colabora e muito para inovação de forma geral”. Além disso, Sandra deixa claro que a indústria é muito poluente, além de estar em um mercado que tem como tendência o fast fashion, que faz com que o consumo desses itens seja mais acelerado e exacerbado, resultando em uma maior criação de lixo têxtil.
Neste sentido, Sandra menciona o projeto “Doe Esperança”, que arrecada roupas íntimas usadas porém em bom estado para que sejam limpas por meio da limpeza industrial, que torna elas completamente utilizáveis, sem nenhum tipo de sujeira. “Foi uma forma que enxergamos de nos associarmos às práticas do mercado e, portanto, inovarmos neste sentido”.
Sandra acredita que é importante deixar claro que inovação demanda reinvenção constante. “É necessário que esse processo seja repensado com uma certa recorrência para que a empresa continue performando bem e se tornando referência a longo prazo. Enquanto o objetivo for assumir posição de liderança e conquista no mercado, o ideal é se propor a sair da zona de conforto o tempo todo”.
Um ponto de alerta que envolve o tema é a discussão referente aos erros que ocorrem no caminho. Não no sentido de evitá-los — pois a diretora afirma que eles ocorrerão inevitavelmente, conforme ideias vão sendo trocadas —, e sim no sentido de aprender a lidar com a frustração do erro.'
“Se você erra, você aprende. É importante desejar chegar a algum lugar e ter resiliência durante o processo. Quando se fala em frustrações, é importante ter autoestima e estar com o emocional em dia. Saber que erros ocorrerão faz parte deste contexto, porque quando você erra, os erros são calculados e, portanto, não chegam a ser frustrantes”, relata Sandra.
Gostou do material? Confira a edição completa do EdTerça com a Sandra Chayo!