Antes de prosseguirmos, é importante destacar que o etarismo é o preconceito ou a realização de qualquer tipo de ação que coloque pessoas idosas em algum tipo de desvantagem. Isso pode impactar negativamente no clima organizacional da empresa e até mesmo atrapalhar o desenvolvimento de pessoas idosas em suas carreiras.
“Estamos todos envelhecendo e é importante se preparar desde já. Se formos deixar para nos cuidar quando a situação chegar, poderá ser difícil”, comenta Leonardo Miggiorin na mais recente edição do EdTerça, focada em etarismo e gestão de times multigeracionais.
Aos 41 anos de idade, o ator, diretor e psicólogo pode não parecer ter muita relação com o tema etarismo à primeira vista, entretanto ele mesmo afirma que o assunto caiu no seu colo de forma repentina e inesperada, o que terminou por impactar positivamente a sua forma de pensar diversas questões correlatas ao assunto. A seguir você confere os principais insights que o profissional trouxe ao evento!
“Como artista, comecei a me questionar: ‘será que as pessoas idosas realmente são chamadas para os palcos?’, ‘será que elas conseguem decorar textos com a mesma facilidade?’ ou ‘será que dão conta fisicamente’? E todas essas situações podem ser contornadas por uma equipe que se mobiliza e faz um esforço maior para isso.”, comenta Leonardo.
Vindo de um contexto artístico, Leonardo se popularizou fazendo uma de suas paixões: interpretando papéis, principalmente no teatro e em novelas televisivas. Em 2009, esse seu amor pela arte o levou a assistir uma peça de teatro sobre etarismo em Buenos Aires (AR), intitulada “O que faremos com Walter?”, que retratava a vida de um zelador de condomínio que estava quase sendo demitido por sua idade, o que retratava a descartabilidade humana de forma cômica.
A partir deste momento, diversos fatores da vida acabaram por relacionar o tema com a vida do artista. “Na pandemia, o setor foi muito prejudicado e queríamos trazer essa mesma peça, o que acabou sendo possível quando o Instituto Velho Amigo abraçou a causa”, acrescenta Leonardo.
Fundado por Regina Moraes, o Instituto Velho Amigo tem mais de 20 anos de atuação e atua com foco no combate a violência contra idosos e inclusão dessas pessoas nos mundos atuais. “Da peça fui para ação social, onde conseguimos apoio da Bradesco Seguros. O tema que já me encantava caiu no meu colo e, de alguma maneira, tomou ainda mais espaço na minha vida”, relata o artista.
Com o espetáculo em cartaz até os dias de hoje, Leonardo chamou a artista Norma Blum para atuar nos palcos aos 83 anos de idade e isso o fez questionar diversas coisas. “Acolher e incluir pessoas nessa idade exige atenção e custo extra, já que muitas vezes os idosos precisam de cuidadores ou de acessibilidade”.
Conforme uma pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde), a população mundial de idosos será de cerca de 2 bilhões até 2050. Diante disso, ainda é importante destacar que a convivência de todas as pessoas do mundo acaba sendo multigeracional em algum momento: seja no núcleo familiar, com avôs e avós, ou até mesmo com o convívio de vizinhos e conhecidos. Por conta disso, não seria diferente no mundo corporativo.
No contexto do ambiente de trabalho, existem atualmente quatro gerações distintas trabalhando cotidianamente: baby boomers (nascidos entre 1946-1964); geração X (nascidos entre 1965-1980); geração Y (nascidos entre 1981-1996) e geração Z (nascidos entre 1997-2010). “E ainda temos a Alpha, que já vem trazendo inovações. Às vezes os adolescentes já conhecem aplicativos que automatizam e melhoram processos dos mais diversos tipos de atividade”, comenta Leonardo.
Com formação em Psicologia, Leonardo uniu as suas duas profissões por meio do Psicodrama, abordagem que utiliza do teatro para diagnosticar e tratar questões psíquicas. De acordo com ele, a modalidade conta com 3 principais aspectos:
Esse exercício pode parecer subjetivo quando pensado no teatro, mas serve como um importante exercício de empatia a ser realizado em ambiente corporativo. Leonardo destaca algumas perguntas fundamentais para tentar entender esse processo, como:
Em espaços onde existem o multigeracional, Leonardo acredita que é importante respeitar cada geração. “Não podemos forçar mudanças de ritmo porque lutar contra isso é muito difícil. É importante encontrar o perfil psicológico de cada colaborador e, com isso, trabalhar o melhor que cada um pode oferecer”.
Neste conceito, ele destaca a importância de se trabalhar a interpretação de papéis para essa finalidade, seja no teatro ou no ambiente organizacional. “A possibilidade de fazer várias coisas e de ser múltiplo é ótima. O mercado de trabalho te possibilita fazer isso e te ajuda muito, o que precisa ser muito feito quando se pensa em diversidade, por exemplo”.
O artista reconhece que não está em seu lugar de fala para realmente abordar o assunto, mas tem uma visão de como gostaria que o assunto fosse enxergado. “É importante reformular o paradigma e afirmar que envelhecer é bom. Também é importante que essas pessoas destaquem os seus mais diversos papéis de vida: de pessoa colaboradora, de filho/a, de namorado/a, de neto/a e etc. para que não sejam uma única coisa”, diz Leonardo.
Um dos pontos centrais trazidos por Leonardo foi o fato de que a inclusão não diz respeito completamente às entregas pontuais e sim às trocas que podem ser feitas, com muito destaque para as soft skills. “Conversar implica em escutar, não só falar. Se você vai trabalhar com uma pessoa idosa, tem a ver com comunicação não-violenta, acolhimento e não só no resultado e na velocidade das coisas”, acrescenta.
De volta ao contexto de interpretar papéis, Leonardo reforça a ideia de que ter diversos papéis na vida impactam de forma positiva quem as pessoas são. “Nesse sentido, o trabalho precisa ser prazeroso porque precisamos sublimar a brincadeira, o nosso sonho de criança, e fazer algo útil no mundo. É importante que um ambiente promova uma troca saudável para todos os perfis”, reforça.
Leonardo ainda acredita que muitos conhecimentos já obtidos devem ser aprimorados quando já não fazem sentido quando se passam por mudanças repentinas. “Acredito que o caminho da saúde é aprender o novo. Temos conhecimento de base e devemos ter a humildade de aprender a aprender novamente”, relata o artista.
“Não vim porque sei tudo. Estou construindo um novo caminho e estamos vivendo uma mudança e mundo; sempre acaba e começa um mundo novo, com novas relações e um avançado universo tecnológico. Existe muito valor em falar sobre etarismo, por exemplo. Isso é sobre falar sobre humanos no centro”, finaliza Leonardo.
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