A escassez de talentos só aumentou nos últimos três anos e a tendência é que continue crescendo até 2027. Qual o cenário atual, quais fichas precisam cair para a alta liderança e quais ações precisamos tomar para evitar o esvaziamento das posições estratégias de trabalho?
Não é novidade para ninguém que o movimento e transformações do mercado de que estamos atravessando, talvez, a maior crise socioeconômica e intelectual nas empresas.
Digo nas empresas porque, obviamente, as pessoas continuam se desenvolvendo, criando, inovando e adaptando, como podem e conseguem. O maior catalizador desse movimento de mudança e adaptação é a própria realidade em que vivemos. Todos nós já percebemos que o mundo hoje é diferente do mundo há seis meses. Imagine então se compararmos com o mundo de antes da pandemia! Fomos obrigados a nos adaptar, alguns mais rápido do que outros, mas nenhum de nós está exatamente no mesmo lugar de antes.
O motivo que leva as empresas a não se movimentarem junto com as pessoas será o mesmo motivo que as levará a fechar as portas. E em pouco tempo, de acordo com todas as pesquisas de mercado. Mas o que isso tudo tem a ver com desenvolvimento de talentos, preparação dos colaboradores, performance e resultado? Bom... Tudo.
Segundo o Relatório Future of Jobs 2023, publicado em maio deste ano pelo Fórum Econômico Mundial, os empregadores relatam expectativa de rotatividade estrutural massiva do mercado de trabalho, o que levará a uma reestruturação de 23% dos empregos até 2027.
Isso significa que, dos 673 milhões de empregos mapeados, os empregadores esperam ter 69 milhões de novos empregos e extinção de 83 milhões de empregos. Isso corresponde a uma redução líquida de 14 milhões de postos de trabalho, ou 2% do emprego atual.
Em complemento a esse dado, o Relatório mapeia também a intenção das empresas em investir na qualificação e requalificação dos seus talentos. No entanto, seis a cada dez trabalhadores precisarão de treinamento até 2027, mas apenas metade desse número terá acesso a oportunidades de treinamento adequadas às novas posições de trabalho.
Quando o tema é direcionado exclusivamente a novos talentos, segundo a pesquisa Global Talent Shortage 2023, realizada pela Manpower Group, 4 em 5 empregadores em todo o mundo relatam dificuldade em encontrar o talento qualificado de que precisam em 2023. Acompanhando a série histórica da pesquisa, esse dado representa um aumento de 2 pontos percentuais ano a ano e mais que o dobro da dificuldade relatada em 2015 (que era 38% contra 77%).
Em um resumo bem simples, 2% do emprego que conhecemos será extinto no mundo em até cinco anos; 23% dos trabalhos atuais precisarão ser reestruturados até 2027; somente metade dos profissionais terão oportunidade de se requalificar; e a falta de talentos preparados bateu o maior índice dos últimos 17 anos, com 77% de escassez líquida.
Diante desses e de outros dados, é possível perceber que o GAP de profissionais preparados aumentou, e muito, de 2020 para hoje. Ao contrário do que as empresas e pessoas esperavam, a tecnologia não alavancou nossa performance como poderia, nem conseguimos nos adaptar à velocidade das mudanças como precisávamos. Ao contrário, o GAP tende a aumentar ainda mais nos próximos anos.
Relatórios e pesquisas, globais e brasileiras, evidenciam esse cenário pouco otimista. Somado aos números desafiadores, ouço com frequência algumas falas preocupantes: equilibrar vida e trabalho é “mimimi”; o salário é pago e as pessoas têm que fazer o que é determinado, dentre outras. Essas falas me assustam muito, não por conta de quem as diz e nem o motivo, mas porque são essas falas que estão colocando as empresas na posição delicada descrita acima.
Quer nossos tomadores de decisão gostem ou não, as empresas hoje têm a obrigação de olhar para as pessoas, ser flexível e equilibrar trabalho com a vida pessoal. Isso não é mais um storytelling. Hoje, esse é o principal fator de decisão para os talentos escolherem sair ou ficar na sua empresa.
Na pesquisa da Manpower Group, 57% dos empregadores afirmam que pretendem oferecer maior flexibilidade de como e onde trabalhar como forma de reter os talentos, uma vez que 48% das empresas identificam que flexibilidade e progressão de carreira são o fator mais importante para atrair e reter as pessoas, contra 36% de salários e 34% de requalificação.
Sim! A flexibilidade e reconhecimento são, hoje, mais importantes do que ter aumento de salário e treinamento. Logo, pautar as decisões de negócio acreditando que teremos as melhores pessoas porque pagamos o salário delas não é a estratégia mais inteligente, principalmente se queremos que nosso negócio prospere, inove e seja competitivo, não concordam?
É fundamental criar um programa com iniciativas estruturadas, voltadas para a retenção de talentos. Sem planejamento, organização e análise de resultados, as iniciativas acabam perdendo a eficácia rapidamente.
Um líder inteligente sabe que um bom exemplo vale mais que mil palavras, e entende que toda mudança começa de cima. É necessário mostrar que respeito, ética e valorização das pessoas se iniciam entre os executivos e a alta gerência. Essa postura, certamente, vai inspirar os liderados a fazer o mesmo.
Um dos maiores fatores que reduzem a motivação são ambientes desconfortáveis, tóxicos ou muito competitivos. Portanto, é preciso promover a integração e a boa convivência entre os funcionários.
Sempre que uma pessoa se sair bem, dê um feedback positivo. Se possível, recompense os colaboradores que se esforçam constantemente pela organização. Assim, você mostra que valoriza o empenho e dedicação, incentivando a melhoria contínua.
Dificilmente um talento vai desejar permanecer em uma empresa se não houver oportunidades de crescimento claras. Então, formule planos sólidos para expressar que ele terá futuro na sua empresa.
Talentos valorizam a aquisição de conhecimento. Por isso, faz sentido apoiá-los quando decidirem fazer uma especialização, cursos rápidos ou trocar experiências.
É importante manter uma cultura de fortalecimento do diálogo, acompanhando os sonhos e metas de cada um. Desse modo, você saberá como alinhá-los ao programa de retenção de talentos.
No fim do dia (ou desse texto) a pergunta que fica é: como estamos nos preparando, preparando nossas pessoas e o negócio para fazer uma adaptação real à nova realidade mundial e o que estamos construindo para ser a opção de escolha dos talentos daqui para frente?
Em um mercado agressivamente competitivo, no qual ficar 1% atrás do concorrente pode significar perder o jogo, as estratégias, certezas e convicções que nos trouxeram até aqui são as mesmas que nos darão o cartão vermelho na final do campeonato. De acordo com os cenários e predições conhecidas, a resposta é dura: ainda não fizemos e nem estamos fazendo nada de relevante, na velocidade que deveríamos. Triste, mas é realidade. A única certeza que você pode ter é que a conta vai chegar.
Por outro lado, é preferível encarar a dura verdade a nos iludirmos com um doce mentira, não é verdade? Agora que você viu esses dados, leu esse texto e pode acessar as fontes para saber mais (caso precise), a direção a ser tomada é clara: precisamos mudar urgentemente.
Não é simples. Ninguém disse que seria fácil, mas temos o caminho. Cabe a nós a decisão de continuar caminhando rumo à evolução do trabalho e da humanidade, ou esperar a avalanche do amanhã nos confrontar, parados no mesmo lugar.
Vamos começar a correr, o mais rápido que pudermos!
The future of Jobs Report | Fórum Econômico Mundial [https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2023]
Futuro do trabalho Brasil | Opinion Box [https://blog.opinionbox.com/futuro-do-trabalho/]
2023 Global Talent Shortage | Manpower Group [https://go.manpowergroup.com/hubfs/MPG_TS_2023_Infographic_FINAL.pdf]
Retenção de talentos: O que é, Importância e Dicas | FIA [https://fia.com.br/blog/retencao-de-talentos/]