Todos nós estamos atravessando um momento de mudança e adaptação constante, como há décadas o planeta não enfrentava coletivamente. Talvez, nunca tenha acontecido um impacto global dessa grandeza em nossa história. Algo dessa relevância e magnitude, obviamente, causa impacto, movimento e expectativas proporcionais. Ou seja, a humanidade atravessa, junta, um mar de incertezas.
Bom… isso você já sabe. Também deve acompanhar nas redes sociais, das mais formais às mais “soltas”, a avalanche de questionamentos variados, fonte de curiosidade, medo, ansiedade e, em alguns casos, até mesmo revolta! Natural. Quando expostos continuamente a situações de grande pressão, sem solução conhecida, sem prazo definido para terminar e sem um caminho a seguir pós crise, somos acometidos pelos mais diferentes tipos de sentimento. Dentre eles, negação, frustração, revolta, solidão são muito comuns.
Eu passo por isso todos os dias. Você também. Afinal, somos seres humanos e nenhum de nós sabe exatamente aonde essa situação vai parar e o que teremos de fazer depois para nos ajustar e seguir nossas vidas. A única certeza que podemos ter, aquela que é 100% certa, é que nenhum de nós será o mesmo após vivenciar essa experiência.
O processo de transformação já começou, está em curso acelerado e, assim como foi preciso aceitar que os celulares vieram para ficar e que hoje são mais utilizados do que computadores pessoais pela maioria esmagadora das pessoas, precisamos aceitar que a nossa relação com as outras pessoas, o nossos trabalho, nossa família, amigos, nossas prioridades, nossas esperanças e aspirações foram impactados também. Isso é algo bom! Ótimo! Os momentos de grande evolução da humanidade foram marcados justamente por esse tipo de reestruturação mental, emocional e social. Então, seja qual for o caminho de amanhã, ele será, com certeza, melhor que o caminho que nos trouxe até aqui. Quer ver? Vamos lá.
É possível ver as pessoas se referirem ao momento que sucederá a crise mundial atual das duas formas.
E, sem purismos, as duas formas estão corretas.
Então, porque eu prefiro o “Novo Normal”? Pelo significado subjetivo, pela mensagem silenciosa que o NOVO tem.
Quando eu me refiro ao amanhã como “pós-normal”, a mensagem que ouço é que havia um normal (momento que antecede a pandemia) e que o futuro nos reserva aquilo que vem depois do normal. Pode parecer pequeno, mas quando reforço o significado do “pós”, eu mesma fico com a sensação de que é algo que nunca será normal, nunca estará estruturado, nunca será 100% aceito porque, na verdade, o verdadeiro normal já passou e terei que viver com o que veio depois.
Só para deixar claro, não é nisso que acredito.
Ao contrário, quando falo em “Novo Normal”, significa que vivemos um normal no passado, que foi transformado e que, a partir de agora, será o nosso novo normal, nossa nova forma de viver, interagir etc.
Então, o normal que vem depois é o antigo normal ressignificado e transformado.
Daí você deve pensar: tanto faz! Pela neurociência a forma que escolhemos nos comunicar, não apenas envia mensagens às pessoas e ao nosso cérebro, como molda nossa motivação diante do caminho a percorrer. Não sei vocês, mas eu adoro coisas novas! Trazem boas recordações de presentes recebidos.
Eu fico com o novo.
Dizer que todos fomos impactados é “chover no molhado”. Porém, alguns estudos, ainda tímidos, mostram alguns desses reflexos e traça alguns cenários, como o compilado de informações, notícias e estudos realizado pela Google sobre Cenários e Tendências Covid-19.
A consolidação dos dados aponta que estamos passando um momento muito maior do que uma crise de saúde individual. Ou seja, não se trata apenas de “pegar” ou não a Covid-19. Os impactos são muito maiores e refletem em estruturas emocionais, econômicas, sociais e mentais da sociedade como um todo.
Neste processo de mudança, transformação e adaptação, os impactos individuais e coletivas não são mensuráveis ainda. Por isso a cautela em montar cenários e falar de tendências.
Por outro lado, existem métodos, estruturas e dados históricos, que nos apoiam a traçar paralelos do passado recente, o comportamento humano conhecido e quais hábitos, mudanças e impactos sentiremos em quando pessoas e sociedade. Não… não estou me referindo a dados de epidemias anteriores, mas a algo bem mais simples como a Pirâmide de Maslov, um mecanismo de análise muito utilizado em educação para traçar necessidades dos indivíduos e os processos de aprendizagem / evolução.
Uma das partes mais “feliz” desse estudo é a apresentação de uma adaptação da Pirâmide de Maslov, apresentada por Bain no repport The Elements of Value, de 2016.
Ao longo do artigo, essa versão da Pirâmide apoia e embasa os dados estatísticos apresentados pelo Google sobre o comportamento das pessoas no período. Vale muito a pena ler, mas quero fazer um recorte e traçar um paralelo entre a Pirâmide adaptada, Educação Digital e Competências, que, genuinamente, foi meu aprofundamento e estudo.
Considerando como premissa que o impacto da crise começa no universo do indivíduo e sua relação com o vírus, mas reflete em vários outros aspectos, individuais e coletivos, A Pirâmide de Elemento de Valores nos remete a uma estrutura de priorização no que tange aos conhecimentos necessários, ações emergências e foco do indivíduo. Resumindo, a incerteza e necessidade de adaptação é tão grande que se torna impossível fazer tudo o que é necessário e aprender tudo o que precisamos ao mesmo tempo.
Mas sabemos como priorizar tudo isso.
A base da pirâmide, que dá sustentação à estrutura, diz respeito às necessidades funcionais. Em um paralelo simples, as necessidades funcionais na Educação Corporativa são aquelas que garantem que, minimamente, o colaborador continuará a desenvolver suas atividades dentro das possibilidades, da melhor forma possível, para minimizar ao máximo impactos para o negócio.
“Meus Deus! O que vou fazer agora?!”
Como exemplo, podemos citar os imigrantes digitais que precisaram aprender a fazer reuniões remotas de um dia para o outro para continuar em contato com colegas, chefes, clientes. Ou vendedores que precisaram mudar desde a abordagem até o meio de comunicação para tentar manter um fluxo mínimo de vendas. Ou profissionais informais e pequenos empreendedores que mudaram começaram a fabricar máscaras, álcool em gel e outros itens não tão procurados antes como forma de abastecer o mercado e de garantir fluxo de caixa e finanças pessoais. A verdade é que estamos cercados por exemplos.
As necessidades funcionais na aprendizagem são aquelas que nos permitem executar nossas tarefas e permanecer produtivos, quer precisemos nos adaptar mais ou menos. Neste cenário, precisamos ser simples para reagir rápido. Surgem treinamentos que ressignificam conhecimentos já aprendidos, ações que apoiam o desenvolvimento de novas competência e conhecimentos para as atividades core dos colaboradores, com objetivo de ampliar opção, abrir mentes, dar alternativas. Planejamento, métodos ágeis, pensamento analítico e habilidades técnicas pertencem a essa base funcional.
Logo após simplificar para continuar, surge a avalanche emocional relacionada ao momento de incerteza.
Essas emoções são as mais diversas, de todas as naturezas, estão amplificadas pelo contexto e nem sempre conseguem ser canalizadas para produtividade.
Estamos falando de coisas importantíssimas como solidão, medos diversos (desde perder o emprego até perder um familiar ou ente querido), ansiedade, tristeza, revolta, cansaço. A lista não acaba. O que precisamos considerar é que todas as pessoas produtivas do mercado, foram impactadas, em graus diferentes, de formas diferentes, e lidar com isso é difícil.
Olhando pela lente da educação corporativa, as necessidades emocionais são aquelas que nos fortalecem perante novos desafios, necessidades de mudança rápida e adaptação constante, habilidades que nos preparam para tomar decisões, ler cenários e, claro, nos estruturar metal e emocionalmente para realizar entregas e ser produtivos.
Aqui, tratamos e questões como adaptação, atitudes do profissional em mudança, equilíbrio emocional, produtividade, engajamento, resiliência. Ou seja, tudo aquilo que fortalece o nosso emocional para nos sentirmos mais prontos, capazes, seguros.
O futuro que todos nós queremos resolver está se construindo agora, nesse instante, durante a crise e a cada decisão que tomamos como parte da sociedade. A incerteza do momento dificulta olhar para a frente e ver o fim (ou o começo) do novo. Por isso, prefiro todos os dias reforçar que o próximo ponto de chegada depende de cada passo que damos até lá, ou seja, nossas ações de agora.
As necessidades aspiracionais na pirâmide de valores trata justamente disso: ter consciência da situação, refletir / entender como isso munda a vida a minha vida e quais são as ações que preciso tomar HOJE, para fazer o amanhã acontecer.
Um bom exemplo disso foi o aumento das linhas de crédito disponibilizadas pelos bancos para renegociações. Dentro das regras estabelecidas, muitas pessoas renegociaram crédito, pagamentos de aluguel, empréstimos etc. Mas, para chegar à solução de curto prazo (não se afogar em dívidas impagáveis) é preciso ter uma análise da situação real, conhecer as alternativas e se colocar em movimento. Resumindo, o valor daquela parcela não será reduzido se eu não correr atrás disso.
Pensando em educação corporativa e traçando um paralelo com as necessidades de desenvolvimento com as necessidades aspiracionais, esta é a faixa da pirâmide que trata dos projetos futuros, ou seja, tudo aquilo que eu pretendo me tornar e as oportunidades que desejo ter.
Neste cenário, aumenta-se a adesão a cursos livres, complementares e de atualização, estimulados pela grande oferta das instituições de ensino nacionais e internacionais em campanhas para a quarentena nos países. O foco é ampliar repertório ou nos desenvolver ainda mais na nossa trilha de carreira.
Considerando que carreira corresponde ao caminho profissional de cada um, muitas empresas apoiam e estimulam seus colaboradores a aprenderem mais e continuamente. Porém, a carreira é do colaborador, não da empresa. Pensando assim, aqui surgem temas relacionados a desenvolvimento ou evolução de lideranças, construção de carreira, além de ferramentas adicionais não diretamente relacionadas as atividades, porém que podem ser relevantes para o meu próximo passo.
O topo da pirâmide traz o aspecto social, a nossa conexão com os outros como forma de comunicação, colaboração e expansão de conhecimentos. Estar no topo não significa ser menos importante. Lembre-se de que a pirâmide trata das necessidades mais básicas (base) até as mais subjetivas (topo).
Comunicação, conexão social, colaboração nunca foi tão importante e nunca nos iludimos tanto acreditando que temos todas essas competências plenamente desenvolvidas. Tenho uma notícia para você: o novo normal exigirá que todos nós ressignifiquemos praticamente todos os nossos conhecimentos, inclusive os sociais. Isso é uma grande oportunidade.
Pela lente da educação corporativa, necessidades sociais estão diretamente relacionadas às nossas habilidades de conexão, comunicação, construção coletiva. Sendo assim, comunicação não violenta, métodos de construção conjunta, utilização de ferramentas digitais e redes sociais não apenas tomam outra proporção, mas precisam ser olhadas com mais cuidado, sob a ótica de verdadeiras competências.
Até o momento, a forma como utilizamos LinkedIn, Facebook ou a própria internet para nos comunicar foi muito empírica. Em uma realidade em que as interações precisarão acontecer mais rápidas, assertivas e eficientes do que antes e os meios virtuais representarão, pelo menos 70% dessa amostragem, não há espaço para ser empírico, não é verdade?