O que é e o que não é inovação? - UOL EdTech
Inovação virou uma das palavras da moda no mundo dos negócios nos últimos anos. Isso foi ainda mais intensificado com a chegada da pandemia do novo coronavírus, que quase do dia para noite fez com que negócios do mundo inteiro vissem a necessidade de saber como adaptar seus processos, produtos ou serviços. Mesmo diante desse […]
Inovação virou uma das palavras da moda no mundo dos negócios nos últimos anos. Isso foi ainda mais intensificado com a chegada da pandemia do novo coronavírus, que quase do dia para noite fez com que negócios do mundo inteiro vissem a necessidade de saber como adaptar seus processos, produtos ou serviços.
Mesmo diante desse cenário, é comum encontrar diversas informações desencontradas sobre o que realmente é inovação e de como criar uma cultura de inovação dentro das empresas.
O autor Nassim Nicholas Taleb, conhecido pelos seus livros Antifrágil, A Lógica do Cisne Negro e Iludidos pelo Acaso, dentre outros, costuma dizer que uma das melhores formas de visualizarmos o futuro é buscarmos o caminho da Via Negativa, uma expressão em latim que se refere a uma proposição cristã onde se busca explicar Deus por aquilo que ele não é, ao invés do contrário.
Quando falamos de inovação, essa é uma maneira interessante de começar a defini-la. Ao invés de começarmos falando o que é inovação, vamos discutir primeiro aquilo que ela não é.
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Inovação não é tecnologia
Primeiro de tudo, inovação não é sinônimo de tecnologia. Essa é uma confusão frequente e bastante comum. Ela nasce do boom tecnológico que tivemos nas últimas décadas, quando gigantes como Microsoft, Google, Apple e Amazon surgiram e se tornaram algumas das maiores empresas do mundo.
A grande questão é que tratar inovação como sinônimo de tecnologia é levar em conta apenas uma parte da equação toda. A tecnologia é sim, uma grande potencializadora de inovações, mesmo assim, tratar as duas como sinônimos pode levar empresas a acreditar que simplesmente adicionando mais tecnologia aos seus processos, serviços ou produtos, elas estarão inovando. Sabemos que isso raramente é verdade e que pode produzir, no final das contas, resultados contrários ao esperado.
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Inovação não é sobre “ser descolado”
Em segundo lugar, inovação não é ter puffs coloridos e post-its grudados nas paredes. Com o avanço das startups, das metodologias ágeis e dos espaços de trabalho mais abertos, muitas empresas passaram a confundir design organizacional com inovação. Novamente, do mesmo jeito que acontece com tecnologia, ter espaços mais amplos de trabalho, utilizar metodologias ágeis, criar hub de inovação… Tudo isso faz parte da equação, mas não é inovação propriamente dita.
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Inovação não é um departamento
Em terceiro lugar, e essa falácia é o ponto central deste artigo, inovação não é um departamento ou uma pessoa. Veja, não estamos dizendo que uma empresa não deve ter um departamento de inovação ou um profissional como líder de inovação. O ponto é: a inovação jamais deve ser vista como responsabilidade única deste departamento ou profissional. Essa área deve ser, na verdade, uma grande direcionadora da inovação dentro da empresa.
O que é Inovação, então?
Inovação é, no final das contas, gerar valor para o cliente. Todo o resto é acessório ou invenção. E uma das formas mais poderosas de se gerar inovação é a partir da criação de uma Cultura de Inovação. Esse é o fator comum dentre as empresas mais inovadoras do Brasil e do mundo. Por isso é tão importante ter, de forma clara, as visões apresentadas acima daquilo que não é inovação: inovação não é tecnologia, não é ter puffs, não é um departamento.
Inovação tem a ver com cultura
Ao contrário do que muitas empresas dão a entender, cultura tem muito mais a ver com mínimas ações diárias feitas pelos colaboradores do que necessariamente com frases bonitas distribuídas pelo escritório da companhia. Cultura é algo orgânico, diário, presente em cada pequena interação que acontece de forma interna e externa da empresa. E por isso é tão importante quebrar qualquer resistência a inovação, buscando investir cada vez mais nas pessoas para desenvolver uma cultura inovadora.
A inovação tem como início e fim um elemento em comum: pessoas. Elas devem ser o objetivo final de toda e qualquer tentativa de inovação. E elas devem ser também o ponto inicial de desenvolvimento de toda e qualquer tentativa de inovação. Perceba que esse é um discurso que ganhou bastante espaço nos últimos anos. As empresas cada vez mais se definem como “centradas em pessoas” ou algo do tipo.
Contudo, quando paramos para ver na prática, o que acontece é exatamente o contrário. O discurso de muitas dessas empresas serve para a assessoria de imprensa e postagens nas mídias sociais, contudo, no dia-a-dia, os profissionais são impedidos de crescer, de mudar processos, de trazer novas ideias e sugestões.
Aqui, entramos em dois pontos importantes: a importância das lideranças e a escalabilidade da inovação.
Falamos lá atrás que inovação não pode ser confundida com um departamento ou uma pessoa. Isso não significa, contudo, que a inovação não dependa das lideranças. Na verdade, as lideranças são fundamentais para que a inovação floresça dentro das empresas.
O papel do líder para a inovação é quase paradoxal. As lideranças precisam sim, serem educadas acerca da inovação e precisam estar por dentro das iniciativas inovadoras da companhia. Contudo, a inovação não necessariamente surge das lideranças. Elas devem ser grandes direcionadoras dos próximos passos e iniciativas. Elas devem ser capazes de abrir portas e conseguir recursos para as novas soluções. Se antes as lideranças eram vistas como figuras centrais, que tinham todas as respostas sobre os próximos passos da companhia, na conjectura atual dos negócios, isso não é mais verdade. As lideranças devem ser grandes impulsionadoras de inovações que surgem independente delas. Dentro do escopo da inovação, os líderes devem ter muito menos um papel de “definidores” e muito mais um de “questionadores”, fazendo as perguntas certas e buscando colocar seus liderados para pensar. E é aqui que entramos no segundo ponto: a escalabilidade da inovação.
Se as lideranças não possuem todas as respostas sobre inovação, de onde ela surge, afinal? Das pontas.
Esse é um ponto ignorado por muitas empresas. Voltando ao ponto que citamos acima, muitas companhias dizem que são focadas em pessoas, mas não criam um ecossistema interno para que os profissionais das pontas, não apenas os líderes consigam gerar inovação. A inovação deve vir das pontas pois os profissionais que lidam diretamente com os clientes são aqueles que estão vivenciando, no dia-a-dia, a experiência do consumidor. Cada troca entre colaborador e consumidor produz insights poderosos que a empresa não só pode como deve utilizar para gerar novos processos, novos produtos e novas soluções, além de otimizar aquelas já existentes.
Outro ponto-chave bastante ignorado por boa parte das empresas é a educação para inovação. Perceba, muitas companhias focam o ensino da inovação apenas nos profissionais mais high-level. É, de fato, importante que esses profissionais recebam esse tipo de treinamento e conteúdo. Contudo, como mencionamos, a inovação não deve ser algo restrita às lideranças. Inovação não tem dono. Ela pode surgir de qualquer lugar, a qualquer hora e em diferentes contextos. As empresas que sabem como desenvolver esses grandes ecossistemas inovadores, onde os profissionais dos mais diversos cargos, áreas e níveis são convidados a trazer novas soluções, são aquelas que conseguem inovar mais rápido. É importante ressaltar que a inovação só ocorre a partir da ideação de diversos testes e milhares de insights que devem acontecer a todo instante. Concentrar todo esse trabalho em apenas uma pessoa ou departamento é a receita para a não-inovação. Por isso a descentralização é tão importante.
Um case clássico dessa mentalidade é o da Intuit, gigante norte-americana de serviços financeiros online fundada nos anos 80. Em determinado momento de sua história, a empresa percebeu que estava burocrática demais e que precisava se mexer com muito mais agilidade. A empresa passou então a investir na autonomia de seus colaboradores e na experimentação em massa. Segundo Kaaren Hanson, ex-Diretora de Inovação da Intuit, “passamos de uma empresa de 8.000 colaboradores para uma empresa de 8.000 inovadores”.
O exemplo do caso da Intuit é perfeito para ilustrar os pontos que mencionamos ao longo deste artigo. Inovação tem a ver com cultura. E a única forma de se construir uma grande cultura empresarial é a partir do foco nas pessoas. Muitas empresas acabam focando demais nas lideranças, sem pensar em dar mais autonomia e educação sobre inovação para quem está nas pontas, em contato direto com os clientes.
Em suma, se você quer ter uma empresa inovadora, lembre-se sempre: A interação entre as partes é sempre mais valiosa do que as partes em si.